Nos Estados Unidos, a fartura de imunizantes está atraindo turistas que não conseguem ser vacinados em seus países de origem.
Andar pelas ruas de Nova York imunizado era um sonho que Fred só conseguiu realizar depois de algumas escalas. Antes de desembarcar nos Estados Unidos, o turista que vem do Brasil precisa fazer quarentena num terceiro país. Fred Fajardo, empresário, passou pelo México. “No Brasil, a dificuldade de tomar. Eu tenho 50 anos, não sei quando que vai ser a minha dose”, disse. Ao chegar na Flórida, Fred conseguiu se vacinar rapidamente. O estado não exige mais prova de residência: “Todo mundo conseguiu vacinar, cada um vai dando seu jeito.”
Os Estados Unidos já compraram 1 bilhão de doses, o que daria para imunizar quase três vezes toda a população. O presidente Joe Biden tem sido pressionado a compartilhar essas vacinas, mas, até agora, mesmo com a vacinação desacelerando no país, Biden só enviou 4 milhões de doses para o México e para o Canadá. O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, quer aproveitar essa fartura e apresentou um plano para oferecer a vacina em pontos turísticos, como na Times Square. Os turistas receberiam a vacina de graça, em dose única. Em troca, voltariam a movimentar a economia da cidade. O plano ainda precisa da aprovação do governador, mas essa facilidade em se vacinar já fez aumentar, no Brasil, a procura de passagens para os Estados Unidos, segundo a Associação Brasileira de Operadores de Turismo. Mas alguns especialistas alertam que o ideal seria doar as doses para outros países vacinarem os grupos prioritários.
“No sentido global, isso é um pouco preocupante porque reforça um privilégio de vacinação que a gente já vê acontecendo no mundo agora. E esse tipo de procedimento só incentiva as pessoas de mais dinheiro de outros países a viajarem para se vacinar fora da sua região, quando a gente precisa de todo mundo vacinado para estar protegido”, afirmou o microbiologista Átila Iamarino.